Com mais de dois anos de bar, lá estava o infeliz do Tassim, sentado em sua cadeira de sempre, era na cachaça, era no limão. Ria-se do nada às vezes, com a cara torta e vermelha, vigiado pelo seu Nonato, dono do bar. Todo fim de semana, aquele bêbado era arrastado pela mulher, criatura prejudicada pela não fartura, pelo atraso do aluguel e pelas noites com uma lamparina a gás, comendo fumaça pra economizar o pouco dinheiro.
- Fecha essa luz, sua doida, qué que a conta de enegia venha alta, é?
O principal ele esquecia, torrava tudo que ganhava na reciclagem de garrafas velhas, que todos os dias achava no lixo. Bebia feito o cão, todo sábado e todo domingo. Naquele sábado, seu Notano mirou o velho relógio de parede, de plástico, cheio de poeira: eram quase meia-noite. Muita gente no bar, tomando cerveja e comendo espetinho de carne pra tira-gosto.
- Eita, que os gato tão se acabando!
- Tão virano churrasco!
Nonato nem se importava com aquelas risadas, ganhava o sustento. Mirou novamente o relógio e, vigiando o Tassim, não viu a mulher dele.
- Tassim, a véia num vem mais te buscá hoje não?
- Ah! – disse ele, com deboche – Eu lá quero saber! Eu quer’é mais!
Alvoroço no bar, depois de uns estampidos: aquilo era tiro! Foi um sujeito revoltado, procurando o amante da mulher, que se meteu no meio do povo, puxando um 38 carregado. Quem conseguiu saiu correndo, mas o Tassim coitado, lá ficou chacoalhando o copo de cachaça, nem teve tempo de virá-lo: uma pontada aguda fez-lhe sentir o sangue quente derramando nas costas e uma dormência esfriando as velhas pernas.
- Seu Nonato, atirar’in mim, foi?
- Sai pra lá, doido véi! Num vai morrer no meu bá, não!
- Atirar’in mim, foi, seu Nonato?
E lá ficou: seu Nonato lavando o rastro de sangue, que deixou ao jogar na rua um cliente com mais de dois anos de bar.
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O fim de um bêbado
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4 comentários:
putz... sem comentários.
...pobre diabo !!
Caramba!!! Isso é conto de primeira linha!!! Objetivo e profundo...
Parabéns!!!
conheço uma estória com um final parecido.....rs depois te conto :-)
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