Notas Úteis?

Café ou sem fé, pode ler

Já faz um bom tempo que uma das minhas sentenças mais repetidas é:
- Eita, que esse mundo tá "chêi" de crente!
Isso por que, de fato, o número deles é bem maior atualmente. É crente pra todo lado, parece que fizeram tudo que era ilegal, imoral ou engordava a vida toda, depois pararam e resolveram aceitar Jesus. Lembro-me do tempo em que a minha mãe me levava pra igreja, junto com meus irmãos, tempos difíceis aquele, quando o povo falava "na cara" sobre os crentes dando dinheiro aos ladrões, quando eles se juntavam nas esquinas, bebendo, fumando e jogando dominó, aconselhando os jovens evangélicos, usando frases clássicas do tipo:
- Meu fí, vá pra igreja, não! Vão tumá seu dinheiro.
Foram momentos inesquecíveis, aqueles em que os católicos não praticantes, principalmente as desocupadas e fofoqueiras donas de casa, se juntavam nas portas uns dos outros pra rirem dos evangélicos e criticarem os escândalos de acúmulos de riqueza nos quais alguns líderes crentes estavam envolvidos. A rede Globo fez naquele tempo uma campanha intensa sobre isso, de forma nítida, através de seus jornais, inspirando até mesmo uma mini-série (Decadência). Do outro lado da guerra, a Record tentava desmentir e rebater o trabalho da Globo, dentro das igrejas, da Universal nesse caso, os pastores mobilizaram o povo, a fim de ingressarem num boicote à rede Globo:
- Quem assistir a globo é do diabo!
Acho que até hoje isso é um tanto verdade. O fato é que milhões de pessoas aderiram a esse movimento, chegando ao ponto de excluírem de suas TVs o canal da emissora.
Perdi muito tempo discutindo, religião e doutrinas de fé ligadas à prosperidade, com pessoas de várias idades que repudiavam o povo evangélico. O tempo passou e a globo esqueceu a Universal, afinal, aquela coisa toda não dava mais lucro, e a Record, em fim, ainda seria uma tremenda porcaria por muito tempo... Enquanto o tempo passa, ele leva da cabeça dos mais desatentos boa parte dos momentos históricos. Foi assim que o povo, aos poucos, passou a ser transformado, inclusive eu, que há séculos larguei a igreja, lugar muito bom, mas que geralmente só deixava um único homem falar, e ninguém lá pode expressar opinião contrária, nem a favor. Por isso larguei, pois costumo trocar carícias íntimas com a liberdade de expressão.
Atualmente, a coisa mais inesperada aconteceu por aqui, aquele povo todo que falava mal dos crentes, às gargalhadas, aos deboches, de repente, duma hora pra outra virou crente também. Agora retornam pra casa, depois do culto, bem na hora da novela, com seus vestidões pretos, biblia debaixo do braço e escandalosos gritos nas portas dos outros:
- Ô! Glória!
- Aleluia!
Sempre me pergunto o que aquela gente quer gritando daquele jeito. Pior é quando eles se acordam, cedinho, e ligam, cada um deles, seus respectivos aparelhos de som, cada um querendo louvar mais alto. Então fica a cantora gasguita dum lado, o pastor gritão do outro, num barulho irracional que ninguém suporta, só eles. Acabo sempre fomentando esse desejo quase herege, mundano e sarcástico de continuar dizendo:
- Eita, que esse mundo tá "chêi" de crente!