A Fome do Pequeno Wagner
O pobre do Vaguim desde o nascimento que foi acostumado com a pobreza, com a carência, com tudo miserável à sua volta, de cara já foi apresentado aos cansados peitos de sua mãe Maria. Teve que dividir, com outras quatro bocas famintas, o pouco que a familia conseguia, dentro de um barraco decadente, chão de terra batida, comendo alguns grãos nas velhas panelas encardidas, amassadas pelo tempo.
Perambulava na frente da casa o dia todo, descalço, por cima da lama que escorria de casa em casa, vestindo apenas uma velha cueca de algodão, cheia de remendos, antes branca, agora amarela, herança de seus irmãos pouco mais velhos do que ele. Brincava com pedras, com as plantas miudas, que cresciam quase sem verde aos pés do lamaçal, tão mirrdas quanto ele.
Naquela favela quase ninguém tinha educação, os moleques gritavam palavrões nos becos, brigavam uns com os outros, a mães nem se importavam, falando mal da vida alheia, enquanto a novela não começava, enquanto um marido não terminava um cigarro ou um moleque daqueles não viesse chorando. Vaguim viu aquilo tudo, um desrespeito mútuo, perdeu muito cedo, junto com seus outros irmãos, o costume de chamar pai e mãe, só chamava Chico e Maria, mania dos meninos do barracal.
À noite, quando se deitava na sua rede remendada, sentia a fome, que não mais podia ser enganada pelas poeris brincadeiras na calçada. O rio sujo não tinha mais peixes, os tempos ruins não traziam dinheiro, e o Vaguim só chorava:
- Chico, dá pexim! Maria, dá farinha!
3 comentários:
sem maiores comentários...
perfeito.
Quantos "Vaguins" não existem pelo Brasil a fora, largados pelo mundo todo?! É uma história antiga e parece que eterna, sempre aparece aos nossos olhos sob diversas formas, é sempre lembrada em contextos diversos...
A maneira como vc construiu o texto, no entanto, fez com que a história se tornasse nova, única e literariamente Bela.
Gosto de ler seu lado "sério".
Parabéns!
E ai, O Vaguim vai chegar à Presidência?
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