Breves Histórias

Abelardo

Os amigos já estavam acostumados com o falatório dele, pois toda vez que o Abelardo chegava nas festinhas, era só pra se mostrar, contar vantagem.

- Morei muitos anos na europa...

Vivia de falar pra todo mundo, que lhe desse atenção, como foi sua vida no exterior, se gabava das lembranças da juventude, agora, no alto de seus 60 e tantos anos. Falava muito de tudo que viu, estudou e conheceu. O que piorava a sua fama, e derrubava toda essa imagem que ele tentava construir de si mesmo, é que havia um boato, entre os conhecidos dele, que o coitado já tava no fim, vivia numas crises de hipertensão, ia muito mal nos negócios. É Tanto que todos apenas o escutavam por pura educação, porém, pelas costas, todos falavam mal dele:

- Rapaz, a senhora dele tá solta no mundo, faz o que quer.
- E ele ta na falência, cês tão sabendo?

Decadente, tudo que o pobre do Abelardo podia fazer era ficar nos seus largos discursos sobre como ganhou dinheiro tocando violão na frança, sobre como quebrou o nariz de um alemão arrogante e sobre como conquistava as incautas latinas que perambulavam por terras európeias.

Falava muitas vezes que, com quase 70 anos, tinha um filho de apenas 10, e que toda noite cuidava muito bem da patroa, esse era o ponto forte de sua apresentação diante dos amigos. O problema é que sua mulher, bêbada, já havia espalhado pra todo mundo que o menino era adotado e que o pobre do Abelardo, há muito tempo, já não fazia mais nada na cama.

- A gente dorme é em quarto separado!