Especial

Érica & Lorraine
As duas saíram confusas do cinema, depois de assistirem ao filme 23. O quarto piso do Aldeota estava lotado por causa do fim da exibição. Muitos adolescentes estavam por ali, frívolos e despreocupados a conversarem com os amigos. Érica arrastou Lorraine até o elevador panorâmico e se apertaram entre a gente da porta. Entraram a bordo completando o número máximo de pessoas. Mal havia espaço para que Érica manuseasse o Pop que trazia na boca. Ajustaram-se todos e o elevador desceu, provocando um leve frio na barriga, que a duas sentiram e dele logo se livraram no instante em que seus corpos se colaram um no outro. O peito projetado contra o da amiga fez Lorraine sentir-se além da amizade e bem perto do desejo. Os mamilos protuberantes de pouco mais de 15 anos se tocavam gravemente. Lorraine tinha o rosto próximo ao da amiga e sentiu seu hálito com o sabor do pirulito. Projetou-se pra senti-lo melhor e uma mecha descuidada e loira se soltou detrás da orelha e foi cair de encontro à branca Érica. Ela sentiu o perfume do shampoo de Lorraine e olhou fixamente para seus olhos castanhos, foi só um breve instante, baixou a cabeça. Érica não resistiu, imaginando a aceitação e a reciprocidade do desejo, abraçou a amiga dizendo-lhe pra esperar que todos saíssem e Lorraine atendeu. Porém, foi mais adiante, aproveitou pra sentir de pertinho o perfume da pele dela, parecia algo de jasmim. O elevador chegara ao andar do Pão de Açúcar, onde as jovens mães das meninas aguardavam fazendo compras. Notáveis senhoras da classe média, cada uma trazendo na mão a chave de recém trocado nacional 2007.
- Isabel, como ia te falando, vou ter que viajar até o Rio este sábado. A Érica detesta aquele lugar, disse Elísia mirando a filha que fazia um beicinho negativo.
- Entendo, respondeu a mãe de Lorraine.
- Por isso, minha querida, vou te pedir que deixe a Érica dormir na sua casa só hoje. Amanhã de tarde estou de volta e vou buscá-la.
Érica e Lorraine trocaram olhares fixos, que por dentro traziam uma mistura de medo e excitação. Estavam tensas, temendo que a Isabel negasse o pedido. Mas, Isabel consentiu tranquilamente.
- Perfeito, venha deixá-la assim que puder.
Elas se olharam outra vez, porém agora estavam novas pessoas. Pareciam um casal de namorados a bolarem o mais erótico dos planos.

No dia seguinte, as duas jovens estavam no quarto de Lorraine, escutando umas mp3 do SOAD e do Nightwish. No início, a luz ainda estava acesa, durante a visita ao Orkut. Jogaram um pouco de Top Gear, que a Érica conseguiu com um colega da escola. Então, ficaram livres depois que a mãe se aquietou com um copo de San Telmo gelado na frente da Rede Globo. O pai estava há quase dois anos no São João Batista. Trancaram mesmo a porta. Quem iria perturbá-las, se além delas só havia na casa a mãe bêbada? Foi nessa hora que Érica mostrou pra Lorraine a surpresa que prometera por telefone: quatro garrafinhas de Smirnoff Ice, o suficiente pra embebedar duas patricinhas de cabeça oca. No fim da terceira garrafa foi que rolou o primeiro beijo, quem se atirou foi a Lorraine. A essa altura, já não se sabia qual das duas era mais safada, porque já subiam para a cama Box coberta com um edredom branco, estampado de luas e estrelas azuis. Embriagadas e quentes, elas se iluminaram apenas do abajur com kanjis japoneses que representavam os quatro elementos. Érica arrancou as roupas da amiga e lhe beijava freneticamente. Lorraine empolgou-se e abraçou forte a amiga, quando um acidente aconteceu: Érica soltou um pum. Bem baixinho, mas soltou. Olhou fundo nos olhos da amiga e se envergonhou mais vermelha que um tomate. Encolheu-se e baixou a cabeça. Toda aquela embriaguez lhe deixara sozinha pra sentir a vergonha do descuido. Virou pro lado e se encolheu deitada. Não conseguiu dizer uma só palavra. Lorraine sentiu-se envergonhada também, mas só um pouco. Virou pro outro lado da cama e se deitou em silêncio. Ficaram lá caladas até que um bate-bate na porta lhes assustou:
- Meninas, a Elísia tá aqui.
A mãe de Érica veio lhe buscar de volta pra casa. Explicou que não pôde viajar por esse e por aquele motivo. Deixava pra fazer tudo no próximo sábado. E saiu pedindo desculpas e levando embora a calada e pensativa Érica. Lorraine deu apenas um tchau bem triste e voltou pro quarto. Esperou tudo acabar e, depois de um breve silêncio, uma forte gargalhada ecoou dentro do quarto.

6 comentários:

Sessyllya ayllysseS disse...

Olha como são as coisas... Um detalhezinho (bem baixinho) foi suficiente pra destruir tudo o que as expectativas das meninas haviam construído...

Talvez seja coisa da idade, pois nessa fase da vida tudo fica por demais exagerado: tanto o desejo, quanto o que se considera defeito.

Uma coisa é certa: ambas jamais se esquecerão desse detalhezinho (mesmo tendo sido bem baixinho)...

Darshu Amrit disse...

" Embriagadas e quentes, elas se iluminaram apenas do abajur com kanjis japoneses que representavam os quatro elementos."

putz.....adoro essas frases no meio da narrativa.....rs tá ótimo... e pense num texto!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Carlos Filho disse...

Nossa...Parecia que eu estava vendo a cena ao vivo...Bela narrativa, descreveu muito bem o ambiente!

Mas será que era curiosidade ou isso perdura? Hummmm....

arghlemonster disse...

Classudo, o sutil flato fez-me ENRUBESCER.

Isso foi culpa do nightwish, escutar esse tipo de música dá azar.

Ciro disse...

Rapaz, também me senti dentro da história. Narração nota 10, cara! Até eu broxei quando a Érica soltou o pum! Hahahahhahahaha!!

Flavio Carvalho disse...

Muito dez meu,

muito bem construído,

abraços