Queda de bicicleta
Todo veículo de duas rodas foi feito pra cair. E a bicicleta tem seu lugar marcado na história dos acidentes. Perdi a conta das vezes que vi alguém se lascar no chão por montar numa dessas. As crianças adoram e quando estão aprendendo sempre levam muitas quedas.
Houve um tempo em que ter uma bicicleta, por mais feia que fosse, saía um tanto caro pra muita gente. Então, a solução, na periferia, era o aluguel de bicicletas, que ficou muito popular há uns trocentos anos atrás. Tinha uma locadora perto da minha casa onde você podia dispor de bicicletas de todos os tamanhos por quantas horas você pudesse pagar. Os moleques do bairro eram viciados e saiam todas as tardes juntos para rodar pelas ruas vizinhas. Durante essas viagens os garotos sempre resolviam passar em frente a um famoso cabaré do bairro, só pra importunar a pobre da dona do estabelecimento. Eles se preparavam e ao passar em frente à casa gritavam: Cabaré da Albertina! Imediatamente alguém saía lá de dentro, puto da vida, e esculhambava os pivetes: “seus fela da puta!” Jogavam até pedras nos meninos, que por conta das pedradas certeiras do pessoal do cabaré acabavam caindo antes de conseguirem fugir.
Eu costumava alugar numa mercearia perto da minha casa, por que tinha umas bikes menores e dava perfeitamente para um menino de nove anos aprender a andar de bicicleta sem muitos riscos. Pois qualquer coisa era só botar o pé no chão. Entretanto, um belo dia fui com alguns garotos tentar atravessar uma avenida, nessa época eu ainda nem sabia andar direito. Comecei a pedalar rápido demais e desorientado pelo barulho dos carros eu perdi o controle e bati com força contra o canteiro central, alto demais para a bicicleta em que eu estava. Voei por cima da bike e fui parar do outro lado do canteiro, que para minha sorte era bem largo e por tanto não cai no asfalto, sorte também porque o recheio do canteiro era todo de areia fina. Quando eu me levantei minha bicicleta estava curiosamente em pé, se equilibrando junto ao meio fio do canteiro. E em instantes um senhor parou pra saber se tava tudo bem: ta sim, senhor, eu respondi.
Era uma grande diversão no meio das poucas que tínhamos. Os acidentes é que eram foda de suportar. Uma vez um moleque desavisado caiu dentro de um buraco de cacimba com bicicleta e tudo. Os roubos também assustavam muito a pivetada, que vez ou outra estava escapando de algum ladrão sem futuro, e por conta disso, em bicicletas sem freio, levavam quedas memoráveis.
A última queda que eu tive foi quando eu tinha uns quinze anos. Eu estava me dirigindo a um supermercado, durante a noite. O asfalto era novo e eu decidi pedalar sem segurar no guidão, no velho estilo “sem as mãos”. Percorrei uns 100 metros só pedalando sem segurar na bicicleta, quando eis que de repente um discreto remendo na pista escura, desses feitos pra consertar o esgoto, me fez balançar e perder o controle. Vi tudo em câmera lenta naquela hora, porém, fiquei incapaz de executar qualquer movimento em prol da minha salvação. A bicicleta começou a virar pra minha esquerda e eu caí lentamente até que senti o duro golpe no chão preto. Pufu! Me lasquei. Quase bato o rosto. Por sorte só acertei o ombro, o joelho e os dedos da mão esquerda. Levantei-me sentido fortes dores nas pernas e notei um ferimento no ombro: sangrava. Neste exato momento lembrei da piada do moleque que estava andando de bicicleta e quis mostrar pra mãe algumas pseudo-acrobacias:
- Mãe, sem uma mão! Mãe, sem a outra mão!
- Menino te “aqueta”!
- Mãe, sem os pés! Mãe, sem os dentes...
Por sorte eu não perdi nenhum dente. Olhei pro lado e vi que tinha um bêbado parado me olhando. Ficamos um a mirar a desgraça do outro. Naquele instante o infeliz, achando graça da minha miséria, gritou: quebrou a cara! Minha dor nem me deixou sentir indignação. Apenas apanhei a bike e saí andando com ela do lado. Não conseguia sequer pedalar. Cheguei em casa todo dolorido e tomando banho eu pensei: nunca mais vou soltar o guidão.
Todo veículo de duas rodas foi feito pra cair. E a bicicleta tem seu lugar marcado na história dos acidentes. Perdi a conta das vezes que vi alguém se lascar no chão por montar numa dessas. As crianças adoram e quando estão aprendendo sempre levam muitas quedas.
Houve um tempo em que ter uma bicicleta, por mais feia que fosse, saía um tanto caro pra muita gente. Então, a solução, na periferia, era o aluguel de bicicletas, que ficou muito popular há uns trocentos anos atrás. Tinha uma locadora perto da minha casa onde você podia dispor de bicicletas de todos os tamanhos por quantas horas você pudesse pagar. Os moleques do bairro eram viciados e saiam todas as tardes juntos para rodar pelas ruas vizinhas. Durante essas viagens os garotos sempre resolviam passar em frente a um famoso cabaré do bairro, só pra importunar a pobre da dona do estabelecimento. Eles se preparavam e ao passar em frente à casa gritavam: Cabaré da Albertina! Imediatamente alguém saía lá de dentro, puto da vida, e esculhambava os pivetes: “seus fela da puta!” Jogavam até pedras nos meninos, que por conta das pedradas certeiras do pessoal do cabaré acabavam caindo antes de conseguirem fugir.
Eu costumava alugar numa mercearia perto da minha casa, por que tinha umas bikes menores e dava perfeitamente para um menino de nove anos aprender a andar de bicicleta sem muitos riscos. Pois qualquer coisa era só botar o pé no chão. Entretanto, um belo dia fui com alguns garotos tentar atravessar uma avenida, nessa época eu ainda nem sabia andar direito. Comecei a pedalar rápido demais e desorientado pelo barulho dos carros eu perdi o controle e bati com força contra o canteiro central, alto demais para a bicicleta em que eu estava. Voei por cima da bike e fui parar do outro lado do canteiro, que para minha sorte era bem largo e por tanto não cai no asfalto, sorte também porque o recheio do canteiro era todo de areia fina. Quando eu me levantei minha bicicleta estava curiosamente em pé, se equilibrando junto ao meio fio do canteiro. E em instantes um senhor parou pra saber se tava tudo bem: ta sim, senhor, eu respondi.
Era uma grande diversão no meio das poucas que tínhamos. Os acidentes é que eram foda de suportar. Uma vez um moleque desavisado caiu dentro de um buraco de cacimba com bicicleta e tudo. Os roubos também assustavam muito a pivetada, que vez ou outra estava escapando de algum ladrão sem futuro, e por conta disso, em bicicletas sem freio, levavam quedas memoráveis.
A última queda que eu tive foi quando eu tinha uns quinze anos. Eu estava me dirigindo a um supermercado, durante a noite. O asfalto era novo e eu decidi pedalar sem segurar no guidão, no velho estilo “sem as mãos”. Percorrei uns 100 metros só pedalando sem segurar na bicicleta, quando eis que de repente um discreto remendo na pista escura, desses feitos pra consertar o esgoto, me fez balançar e perder o controle. Vi tudo em câmera lenta naquela hora, porém, fiquei incapaz de executar qualquer movimento em prol da minha salvação. A bicicleta começou a virar pra minha esquerda e eu caí lentamente até que senti o duro golpe no chão preto. Pufu! Me lasquei. Quase bato o rosto. Por sorte só acertei o ombro, o joelho e os dedos da mão esquerda. Levantei-me sentido fortes dores nas pernas e notei um ferimento no ombro: sangrava. Neste exato momento lembrei da piada do moleque que estava andando de bicicleta e quis mostrar pra mãe algumas pseudo-acrobacias:
- Mãe, sem uma mão! Mãe, sem a outra mão!
- Menino te “aqueta”!
- Mãe, sem os pés! Mãe, sem os dentes...
Por sorte eu não perdi nenhum dente. Olhei pro lado e vi que tinha um bêbado parado me olhando. Ficamos um a mirar a desgraça do outro. Naquele instante o infeliz, achando graça da minha miséria, gritou: quebrou a cara! Minha dor nem me deixou sentir indignação. Apenas apanhei a bike e saí andando com ela do lado. Não conseguia sequer pedalar. Cheguei em casa todo dolorido e tomando banho eu pensei: nunca mais vou soltar o guidão.
2 comentários:
Bem feito, Nunca ouviu dizer que praga de mãe pega e posso ter certeza que sua mãe falou mais de uma vez para vc ter cuidado... Posso tirar isso por mim mesma, eu nunca aluguei bicicleta, nunca encontrei um lugar desses, mas eu tinha muitos primos e os mesmos sempre estavam com alguma bicicleta e na velha mania de pedir emprestado tbm levei muita queda, mas pra mim isso nunca foi novidade... eu caia de todo jeito. E se fosse a pé ou de bicicleta não havia muita diferença.
Espero que vc tenha aprendido a lição e nunca mais solte as mãos.
beijos
Muito bom!
lasquei-me de rir
=D
=*
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