Especial

O Bêbado

O alcoolismo é sem dúvida um grave problema. Muitas pessoas sofrem por ter um bebum sem futuro dentro de casa. O sujeito bota boneco, quer brigar, quer bater na mulher, quebrar os pertences de casa. Uma tremenda infelicidade. Se o cara ao menos bebesse e não mechese com ninguém, fosse pra casa depois da manguaçada e dormisse em paz, sem assustar as crianças, sem chamar atenção dos vizinhos curiosos. Mas não, ele tem que dar problema sempre que sair pra beber. Uma vez vi um “bêbo” cair de testa no fio de pedra na rua de uma feira. Em pleno o meio-dia e lá estava o miserável de cabeça arrebentada sangrado feito um torcedor brigão. O cachaceiro só disse "ai" e tombou pro lado feito um saco de batatas, ninguém nem se importou. Sinceramente acho que aquele sujeito foi dessa pra pior.
Tem pinguço que dá uma de conselheiro. Já vi um que juntava os pivetes e dizia: fulaninho, você é um menino de Deus! Cuide bem dos seus coleguinhas! Esse ai a galera chamava carinhosamente de "Seu Merda". Pois era assim mesmo que ele gritava quando alguém o importunava: “Seu Merda!”
Bêbado não pode ver violão. Se na rua ele estiver, voltando de mais uma bebedeira, e encontrar alguém tocando violão ele vai parar e pedir pra tocar também, vai cantar, bater palma e perguntar: é um ré menor? É um ré menor? Um amigo certa vez me contou a história de um bebo apelidado de "Cardeal", apelido este recebido pelo fato de o tal bêbado já ter sido padre e ter uma carequinha estilo são Francisco de Assis. Dai o povo, que poderia tê-lo chamado de qualquer outra coisa, o chamou logo de cardeal. A história desse bebum era como tantas outras historias de bebum que já ouvi: absurda. Diziam que ele, pobrão, sempre esperava que alguém lhe pagasse uma dose. Alguém este que muitas vezes se aproveitava do vício do infeliz pra lhe arrancar o relato de seu curto caso com um travesti de nome Alice. "O! Jovem. Foi muito triste essa história" dizia ele. Conta Cardeal! Conta que eu te pago uma dose. Dizia um gaiato. E o coitado do Cardeal contava tudo: O, jovem! Foi quando eu era mais novo. Encontrei com a Alice e a levei pro escritório (um terreno baldio, aonde os clientes, que freqüentavam o mesmo bar que o Cardeal, levavam os "casos" que arrumavam.). Chegando lá botei Alice de quatro. Como o chão estava um pouco molhado, lá pras tantas escorreguei e caí. Quando dei por mim, Alice estava por cima de mim e disse: agora é a minha vez... O! Jovem, foi tão doloroso!”.
Próximo à rua da minha casa passava sempre um “bebim” conhecido pela alcunha de “Ventania”. Lembrava o Seu Babinha, pai do Popó, magro e baixo. O Ventania ia passando num dia qualquer como sempre fazia, quando uma mulher gritou por ele: Hei, Ventania! Pra quê que essa mulher fez isso?! Ventania voltou com tudo e esculhambou a infeliz. Chamou a mulher de tudo quanto foi nome e só faltou chama-lá de santa, porque do resto ele chamou. A arrependida senhora, envergonhada não disse uma só palavra e entrou pra dentro de casa fugindo dos olhares dos transeuntes. Provou-se que “bêbo” também é atrevido. Tempos depois descobri que aquele bebum era chamado de “Bêbo Luquinha”.
Palhaçada mesmo, foi o dia em que um senhor que há muitos anos veio do Rio de Janeiro pra morar aqui em Fortaleza, aproveitando-se da ausência da mulher, encheu a cara de cana. Depois de muitos goles, transtornado e com um belo acesso de homem-aranha, resolveu subir no teto do banheiro construído nos fundos da casa. Chegando lá em cima, Acari (Alcunha devida ao fato de que este senhor freqüentava a famosa feira de Acari no Rio), não conseguia mais descer. Começou a chorar de desespero, morrendo de medo de cair. Quando a mulher dele retornou para o lar deu de cara com o espetáculo feito pelo o marido cachaceiro. Disseram que até o pessoal do Programa Rota 22 estava lá filmando a marmota. Os bombeiros foram chamados e quando retiraram o escalador de banheiros lá de cima, sua mulher lhe disse: Acari, vai lá fora que a multidão quer te ver. E a rua estava lotada. Gente de todas as ruas vizinhas veio ver o barrigudo que ficou preso no próprio telhado. Quando Acari saiu à porta, igualmente a uma celebridade foi ovacionado pela população, que gritava seu nome a plenos pulmões: Acari! Acari! E assim mais um cara bêbado foi salvo.



[Agradecimentos a Thiago Wicca, por ter me contado a história do Cardeal]
[In memorian "Bêbo Luquinha"]
[Talvez In memorian Sr. Bêbado da feira. Não sei se ele morreu mesmo]
O meu mais sincero obrigado a todos os bêbados dessa cidade. Vocês são pessoas únicas!

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